Saúde do trabalhador é pauta do segundo dia do Congeps
Na manhã da quinta-feira (17), o Congeps abriu o dia com a conferência “Saúde laboral e implicações práticas”. Em novas configurações do trabalho, um dos desafios para a Gestão de Pessoas é o adoecimento do trabalhador. Diante de exigências e prazos, lidar com dimensões absolutas, na busca de qualidade de produção, gera esgotamento emocional. O modelo de trabalho contemporâneo se aproveita de máximas como os desejos por satisfação absoluta, reconhecimento e poder. Ana Magnólia Mendes, professora do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de Brasília, atentou para a necessidade de outro objetivo: “se existe alguma meta em relação à saúde, seria zero número de afastamentos, zero aposentadorias por invalidez”, pontuou. A sobrecarga e aceleração gera respostas sem pensar, sujeitos automatizados, conforme a lógica do capital, do consumo e da acumulação. “Quando uma organização trabalha com a aceleração, todos os vazios precisam ser preenchidos”, alertou a pesquisadora sobre normatividades sociais de controle, fobias e adoecimentos.
Estes reflexos na vida do trabalhador, no entanto, nem sempre são percebidos ou denunciados. O sofrimento gerado pelo trabalho aparece também em embates na esfera judicial. Kelly Amorim, coordenadora de Pós-Graduação e Extensão da Universidade Mackenzie, apresentou relatos de processos trabalhistas de casos de assédio moral, físico e sexual. “Não é fácil detectar doenças relacionadas ao trabalho porque muitas delas, como a depressão, são multifatoriais, alertou Amorim. Há, muitas vezes um adoecimento silencioso, agravado pela subnotificação. A virtualização das relações de trabalho traz ainda questões como a mistura entre a casa e o espaço laboral, o afastamento físico de colegas, o que geraria o encontro até consigo mesmo, e reflexos sobre direitos antes não-previstos, como o da desconexão.
A conferência teve a mediação da Doutora em Direito Catharina Taquary Berino, que frisou a necessidade de uma autoempatia, um entendimento de si mesmo, e refletir quanto a limites e oportunidades. “Esse congresso já demonstra uma atitude, de falar do sofrimento. Se não sairmos da falácia, se não discutirmos a filosofia da felicidade organizacional, não conseguiremos avançar”, finalizou Ana Magnólia, que parabenizou a mesa pelo entrelaçamento de abordagens teóricas e empíricas.
Pesquisa – No segundo dia de apresentações de trabalhos científicos envolvendo a Previdência Social, a relação entre novas formas de trabalho e a saúde do trabalhador foi tema de relatos de pesquisas desenvolvidas por servidores do INSS. Mayara Jambeiro Brandão apresentou análise documental de dados epidemiológicos da área coordenada pela Gerência-Executiva do INSS em Petrolina (PE) a partir do ano de 2018, época da implantação do INSS Digital. “O conceito de qualidade de vida é multifacetado. Assim, avaliamos a atividade do trabalhador e como ela o impacta, em aspectos positivos e negativos”, disse a analista do seguro social. Junto com Carolina dos Anjos Obata, ela observou registros de variáveis como condições de trabalho e relações socioprofissionais, o elo trabalho- vida social, reconhecimento e desenvolvimento profissional e Gestão. Os indíces que se mantiveram em patamares satisfatórios, após o início de trabalhos em formatos digitais, foram impulsionados por iniciativas dos próprios trabalhadores, como melhoria do ambiente de casa para possibilitar o teletrabalho e competências pessoais. “Precisamos do trabalhador como protagonista”, destacou Mayara. Foram percebidos fatores que promovem o mal-estar no trabalho e processos de mudança na comunicação e gestão, apesar de ter havido uma melhoria na organização e condições de trabalho, a partir do teletrabalho.
Outro artigo apresentado na quinta-feira (17) foi da assistente social da Gerência do INSS em Fortaleza, Tatiana Mendonça. O artigo “Digitalização no serviço público brasileiro: reflexões sobre os desafios ao trabalho do servidor do INSS” traz reflexões sistematizadas durante pesquisa de campo para dissertação no Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas pela Universidade Federal do Ceará. A Agência da Previdência Social Fortaleza-Messejana (CE) foi o local de coleta de dados de pesquisa que buscou compreender como o servidor se via na implantação do INSS Digital, em 2019, e como isso mudou visões de trabalho. “Compreendemos como um diferencial analisar o trabalho numa perspectiva do servidor neste contexto de transformação digital, que já vinha em curso”, afirmou Nascimento. “Enquanto algumas pesquisas têm como foco o atendimento e o cidadão, buscamos a perspectiva do servidor, e o artigo trata dos desafios encontrados”, completou. O principal foi a escassez de mão-de-obra, e a percepção de que a automatização de serviços, como atendimento remoto na Previdência Social, é um caminho, mas não pede ser o único. “A partir do foco no cidadão, devemos oferecer outras alternativas. E quanto ao servidor, há uma sobrecarga de trabalho”, resumiu. Outros fatores podem impactar nestes cenários, como a previsão de chegada de novos servidores com o concurso público em curso neste ano.